segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Nasceu no mundo um sol




"Nasceu no mundo um sol".
Com estas palavras, na Divina Comédia (Paraíso, Canto XI), Dante Alighieri alude ao nascimento de São Francisco de Assis.

Giovanni di Pietro di Bernardone, nascido na cidade italiana de Assis no ano de 1.182, filho de um grande comerciante de sucesso, certamente mais conhecido pela alcunha de “São Francisco de Assis”, levou uma vida condizente com sua condição financeira até aproximadamente, seus vinte anos. Desfrutou dos prazeres mundanos que sua condição permitia, tornou-se popular e abusou das extravagâncias. Aventurou-se em meio às roupas da moda, bebidas e dinheiro; porém, sempre possuiu uma essência pura.

Aproximadamente em 1.202, partiu para a guerra conta Perúsia, onde foi feito prisioneiro por aproximadamente um ano. De volta, enfrentou uma doença por mais um ano. Cuidou do seu pai adoecido por algum atempo e, mais tarde, saiu para uma nova empreitada como soldado, na região de Apúlia, tendo servido aos exércitos papais contra tropas imperiais.

Foi surpreendido por uma visão. Segundo a versão da “Legenda trium sociorum”, uma voz lhe disse: “- Quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo?

Giovanni di Pietro, respondeu: “- O senhor!”

Eis que a voz lhe retrucou: “- Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?”

Sem entender, Giovanni di Pietro disse: “- Que queres que eu faça?”

A voz, então replicou: “- Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste.”

Após ter sido tocado pela mensagem divina, começou a demonstrar preocupação com os necessitados e, a partir de então, retirou-se em uma gruta, onde iniciou um ciclo de meditação. Tido como louco, foi trancafiado pelo pai. Quando solto, renunciou os bens materiais e dedicou sua vida aos mais necessitados.

I Fioretti di San Francesco” é uma preciosa obra da literatura italiana que contem lendas relativas a São Francisco de Assis. Dentre estes belos textos, destaca-se “O Lobo de Gubbio”.

Reza a lenda que um lobo feroz assolava a cidade italiana de Gubbio, localizada na Umbria, atual província de Perugia. O terrível predador já havia devorado muitos animais e pessoas.

O animal apresentava tamanha ferocidade que ninguém tinha coragem de se aventurar fora da cidade. Não havendo outra alternativa, Gubbio cercou-se com altas muralhas, sendo que todos os habitantes andavam armados.

Quando Francisco chegou àquela cidade, estranhou o medo do povo. Percebeu que a culpa podia não ser somente do lobo. Logo, ofereceu-se para ajudar.

Sozinho e desarmado, saiu de encontro ao lobo.

Ao encontrar o feroz animal disse que queria conversar com ele. Ante a bondade do homem, o lobo perdeu sua maldade.

Francisco disse ao lobo que faria um trato com ele: daquele dia em diante, juntamente com a cidade, cuidaria do animal, já que em função do crescimento daquela, a floresta já não mais lhe oferecia o alimento necessário. Sendo, portanto, desnecessário o emprego de violência por parte do animal.

Assumido o compromisso pelas partes, Francisco retornou à cidade na companhia do lobo. A partir de então, o povo da cidade abandonou sua raiva, cuidou do lobo e passou a chamá-lo de irmão.

Após uma sadia convivência, tomado pela velhice e com grande pesar, o lobo morreu.

Ainda hoje em Gubbio existe um sarcófago de pedra, no qual repousam os restos mortais do lobo.

A intolerância impedia a convivência. Francisco desdenhou o lobo e a cidade, pois ambos, ao mesmo tempo, estavam errados e possuíam razão.

Por quantas vezes, em virtude do orgulho exacerbado que cega uma pessoa, fazendo que esta somente enxergue os pontos negativos nos outros, relações chegam ao fim?

Aos poucos, as pessoas vão se destruindo. O que deveria ser valorizado é jogado no lixo. Amam objetos. Apegam-se a quem as ofende.

O importante, não mais importa.

Foram-se os anéis. Os dedos seguem seguem o mesmo caminho.

A intolerância aliada ao orgulho está destruindo as relações e impedindo que novas surjam; ao passo que, com o passar do tempo, o desenvolvimento da sociedade e o consequente acesso à informação, à educação e a cultura, a Humanidade deveria tornar-se mais “humana”.

Apesar de ser algo difícil, que por vezes poderá se mostrar impossível, a melhor forma de demover o ódio de um Ser é mostrar àquele que todos possuem a capacidade de amar.

Um comentário:

  1. Francisco teve que se portar de maneira diferente para lidar com o animal. O lobo somente decidiu mudar de atitude após Francisco não demonstrar atitude autoritária ou agressiva. O texto me remete a um sentimento de vital importância para o bem estar das relações sociais: Empatia. Infelizmente, escassa nos dias atuais.

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