domingo, 27 de fevereiro de 2011

A força das palavras


Ontem enquanto conversava com uma amiga, cheguei a uma conclusão: apreciar as palavras com sinceridade é algo capital, respeita-las é parte importante da boa convivência e senti-las é um dos segredos da felicidade.

As palavras tem valor e importância, não devemos desperdiça-las, temos que saber usa-las e dosar deste uso. É fácil falar, mas esta facilidade pode causar grandes transtornos. O ato de viver e a dádiva do amor são muito mais importantes que um mero ato de civilidade, o emprego vago de palavras.

Não são raras as vezes que tenho a sensação de que o mundo e a convivência no viciaram no ato de lançar palavras para o mundo, de forma vazia. Acabamos por esquecer que tudo na vida é cíclico, e uma palavra bem usada, tal como a mal usada, podem, futuramente, acabar nos atingindo em cheio. Algumas pessoas nos falam algo importante e “do nada” esquecem o que foi dito. Quem fala pode até esquecer, mas quem ouve, jamais!

Todas as palavras vãs, os interesses egoístas, as críticas cheias de fel, as mentiras sujas e as promessas irreais – a bem da verdade, não passam de acanhadas contravenções contra o outro e contra nós mesmos. Por isso, devemos saber medir a força das palavras. Além disso, é indispensável que exista harmonia e coerência entre as palavras e nossas atitudes diárias, sob pena de concedermos uma semi-vida a um quase-ser desprovido de alma. Então, permitir que as palavras sejam regradas de sentimentos pode transmitir força a quem ouve ou simplesmente lê.

Não desperdice um “Eu te amo”. Use-o quando o mais doce e puro dos sentimentos estiver transbordando em seu coração.

Não posso deixar de lembrar que também existe riqueza no silêncio. Pode parecer antagônico relacionar a fala com o silêncio, mas saber a hora certa de calar-se não deixa de ser uma maneira bastante singela de bem se expressar. O silêncio pode ser uma forma de comunicação mais profunda do que milhões de palavras.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Vida


O que nos oferece a vida?
Sofrimento?
Não...
Isso é presente do homem!

Como não gostar da vida,
se nela bons momentos são vividos?
Como não valorizá-la,
se o amor é a base de tudo que vivo?
Como não senti-la,
se por conta dos bons sentimentos vivo?

O que é vida?
Tristeza?
Não.
É amor querendo ser...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Na companhia de Platão

Um presente pode nos trazer não somente o prazer do ser lembrado, do ganhar, mas também abrir nossas cabeças, apresentar o prazer do saber, do descobrir, do caminhar por trilhas inusitadas, novas e desafiadores. O mais importante não é exatamente o que ele é, mas o que ele lhe causa!

Fui presenteado com o livro “O Banquete” de Platão, por uma amiga especial, a Regina. Um clássico da literatura, de um dos maiores gênios da humanidade, que lhe prende, atrai, cativa, algo ímpar. Mas também não poderia esperar algo diferente, vindo da pessoa inteligente e incrível de que se originou tal presente.

Esta obra se encaixa como um diálogo sobre um tema, incansavelmente debatido, mas neste caso de forma única: o amor enquanto Eros. O Banquete é escrito no formato de uma peça teatral, assim como inúmeros diálogos platônicos.

O cenário é uma festa que se passa na casa de Agaton, sendo destacado Sócrates, como o homem presente de maior importância. Após o exagero cometido na festa do dia anterior, Pausânias, um dos presentes, propõe que se iniciasse uma discussão sobre determinado tema, que Eriximaco sugere, serem feitos elogios a Eros (representado como o deus do amor).

Fedro é o primeiro a discursar, condenando o ofício dos poetas que tem como encargo entoar hinos aos deuses, mas que se esquecem de Eros, segundo ele, o deus mais remoto, mais respeitável e o mais qualificado a encaminhar o homem a ser possuidor de virtudes e da felicidade, nesta vida e após a morte. A temática do seu discurso é uma justificação moral de Eros, mas não chegando a fundo suas formas e sua essência. Acabaremos por ver, na obra, que a partir da fala de Fedro, Sócrates iniciará sua discussão.

Em seguida, Pausânias, afirma que existem mais de um Eros: o vulgar, que deve ser repudiado, destina-se à simples satisfação dos apetites sensuais e o diverso que tem uma ascendência divina e estimula o zelo de servir ao real bem e a perfeição do amado. Para Pausânias o amor é algo laudável, que significa liberdade para o homem. “O amor aproxima o sujeito das virtudes”.

Para Eriximaco, um médico, o amor não alcança, simplesmente, a alma das pessoas, mas também influencia na harmonia do corpo. A partir daí podemos ver como é forte a influência deste sentimento no ser humano, envolvendo-lhe corpo e alma.

Dando sequência às exposições, Aristófanes, um poeta, apresenta uma definição mais “romântica” de Eros. Onde não somente a união física dos seres ocasiona a eles um prazer tão grande com a presença do outro, mas é algo diferente, com uma explicação difícil de ser dada. Ele termina sua explanação dizendo que o homem somente terá uma vida feliz quando for tomado por Eros.

Agatão rasga elogios a Eros, definindo-o como o mais belo, o melhor; limitando-se a enumerar suas características.

Após a exposição dos presentes, chega-se ao momento mais aguardado, que é o discurso de Sócrates. No início ele difere sua visão de Eros da de Agatão, Eros para Sócrates não é o próprio belo, mas deseja sê-lo, tem a aspiração de possuir algo. Expõe que quem ama, tem a ambição de possuir aquilo que ama.

Sócrates recorda que havia questionado a profetisa Diotima sobre Eros. Isso demonstra que seu discurso não é unicamente dele, mas uma verdade desvendada. Segundo este mito, Eros é filho de Poros (riqueza) e de Penia (Pobreza), o que lhe põe em uma posição intermediária, não sendo feio nem belo, nem pobre, nem rico, nem mortal, nem imortal, sempre oscilando entre dois pólos. Poderíamos entender que seu significado estaria no desejo de sair de uma situação de penúria, para entrar numa de riqueza. Seria um pêndulo entre o ter e não-ter. A partir disso, compreendemos como é contraditório o amor. Apesar de não ser um deus, o Amor pode nos ser de grande auxílio, pois o homem é um ser no exílio, de si próprio, de seu verdadeiro eu, suas origens.

A natureza do Amor é a de busca do belo, “lato sensu”, que engloba também o bem. Existem várias formas de amor, como a solidariedade e a compaixão, portanto o amor mostra-se de vital importância para o homem. Platão mostra-se convencido de que os homens na sua totalidade querem o bem, ainda que muitas vezes se engane sobre o seu significado. Na busca pelo bem, o Amor funciona como uma força propulsora, que nos joga em direção a nós mesmos, nossa verdadeira natureza, que anseio pelo belo.

O fato curioso do livro é que o Eros de Platão, desvendado por Sócrates, é o próprio filósofo, que se encontra numa posição intermediária, entre a ignorância e o saber, aspirando um algo. O Eros platônico é libertador, em essência, é a aspiração a se apropriar do bem para sempre.
O Banquete termina com a chegada de Alcibíades e um grupo de bêbados, que rasga elogios à Sócrates.

Notamos no decorrer do livro várias análises acerca do amor, visões unilaterais, feitas por figuras diversas da sociedade ateniense. Um dizendo que o amor é a causa de adotarmos atitudes, até certo ponto nobres, para sermos merecedores da amada. Outro afirma que o amor é uma espécie de frenesi, e alguns, como Aristófanos, definindo-o como a busca da nossa metade.

A amizade para Platão é um dos pilares da formação de uma sociedade, pois ela tende para aquilo que é o bem e isto une os homens.

O Amor platônico serve como um auxiliar para aquele que quer atingir a perfeição, pois o coloca na direção dela. Creio que para Platão, quando estamos envoltos por um sentimento forte, a alma anseia tanto pelo contato com a amada, que pode acabar perdendo o juízo. Fica a lição de que o homem deve ser forte para poder amar, vista a complexidade e o poder de tal sentimento. Antes de nos envolvermos com uma pessoa, devemos tentar encontrar a razão onde só, aparentemente, existe emoção.