"Nasceu
no mundo um sol".
Com estas palavras, na Divina Comédia (Paraíso,
Canto XI), Dante Alighieri alude ao nascimento de São Francisco de Assis.
Giovanni di Pietro di Bernardone,
nascido na cidade italiana de Assis no ano de 1.182, filho de um grande
comerciante de sucesso, certamente mais conhecido pela alcunha de “São
Francisco de Assis”, levou uma vida condizente com sua condição financeira até
aproximadamente, seus vinte anos. Desfrutou dos prazeres mundanos que sua
condição permitia, tornou-se popular e abusou das extravagâncias. Aventurou-se
em meio às roupas da moda, bebidas e dinheiro; porém, sempre possuiu uma
essência pura.
Aproximadamente em 1.202, partiu para a guerra
conta Perúsia, onde foi feito prisioneiro por aproximadamente um ano. De volta,
enfrentou uma doença por mais um ano. Cuidou do seu pai adoecido por algum
atempo e, mais tarde, saiu para uma nova empreitada como soldado, na região de
Apúlia, tendo servido aos exércitos papais contra tropas imperiais.
Foi surpreendido por uma visão. Segundo a versão da
“Legenda trium sociorum”, uma
voz lhe disse: “- Quem te pode ser de
mais proveito? O senhor ou o servo?”
Giovanni di Pietro, respondeu: “- O senhor!”
Eis que a voz lhe retrucou: “- Então por que deixas o senhor pelo servo e o
príncipe pelo vassalo?”
Sem entender, Giovanni di Pietro disse: “- Que queres que eu faça?”
A voz, então replicou: “- Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves
entender de outro modo a visão que tiveste.”
Após ter sido tocado pela
mensagem divina, começou a demonstrar preocupação com os necessitados e, a
partir de então, retirou-se em uma gruta, onde iniciou um ciclo de meditação.
Tido como louco, foi trancafiado pelo pai. Quando solto, renunciou os bens
materiais e dedicou sua vida aos mais necessitados.
“I Fioretti di San
Francesco” é uma preciosa obra da literatura italiana que contem lendas
relativas a São Francisco de Assis. Dentre estes belos textos, destaca-se “O
Lobo de Gubbio”.
Reza a lenda que um lobo
feroz assolava a cidade italiana de Gubbio, localizada na Umbria, atual
província de Perugia. O terrível predador já havia devorado muitos animais e
pessoas.
O animal apresentava
tamanha ferocidade que ninguém tinha coragem de se aventurar fora da cidade. Não
havendo outra alternativa, Gubbio cercou-se com altas muralhas, sendo que todos
os habitantes andavam armados.
Quando Francisco chegou
àquela cidade, estranhou o medo do povo. Percebeu que a culpa podia não ser
somente do lobo. Logo, ofereceu-se para ajudar.
Sozinho e desarmado,
saiu de encontro ao lobo.
Ao encontrar o feroz
animal disse que queria conversar com ele. Ante a bondade do homem, o lobo
perdeu sua maldade.
Francisco disse ao lobo
que faria um trato com ele: daquele dia em diante, juntamente com a cidade,
cuidaria do animal, já que em função do crescimento daquela, a floresta já não
mais lhe oferecia o alimento necessário. Sendo, portanto, desnecessário o
emprego de violência por parte do animal.
Assumido o compromisso
pelas partes, Francisco retornou à cidade na companhia do lobo. A partir de
então, o povo da cidade abandonou sua raiva, cuidou do lobo e passou a chamá-lo
de irmão.
Após uma sadia
convivência, tomado pela velhice e com grande pesar, o lobo morreu.
Ainda hoje em Gubbio existe
um sarcófago de pedra, no qual repousam os restos mortais do lobo.
A intolerância impedia a
convivência. Francisco desdenhou o lobo e a cidade, pois ambos, ao mesmo tempo,
estavam errados e possuíam razão.
Por quantas vezes, em
virtude do orgulho exacerbado que cega uma pessoa, fazendo que esta somente
enxergue os pontos negativos nos outros, relações chegam ao fim?
Aos poucos, as pessoas vão se destruindo. O que deveria ser valorizado é jogado no lixo. Amam objetos. Apegam-se a quem as ofende.
O importante, não mais importa.
Foram-se os anéis. Os dedos seguem seguem o mesmo caminho.
A intolerância aliada ao
orgulho está destruindo as relações e impedindo que novas surjam; ao passo que,
com o passar do tempo, o desenvolvimento da sociedade e o consequente acesso à
informação, à educação e a cultura, a Humanidade deveria tornar-se mais
“humana”.
Apesar de ser algo
difícil, que por vezes poderá se mostrar impossível, a melhor forma de demover
o ódio de um Ser é mostrar àquele que todos possuem a capacidade de amar.