segunda-feira, 6 de abril de 2015

Lições


Ao ouvir a mensagem “Urbi et orbi” (à cidade de Roma e ao mundo), proferida por Francisco neste domingo de páscoa, fortaleci minhas convicções, sobretudo as que me prendem à necessidade de externar sempre a verdade e, por mais duro que seja, trilhar minha vida sob a égide da humildade. A humildade apesar de incluir humilhação, é a estrada que pode nos levar á gloria. Somente quem se humilha pode caminhar ao encontro da paz interior e de Deus. Como bem disse Francisco “o orgulhoso olha de cima para baixo e o humilde olha de baixo para cima”.

Com 28 anos aprendi o que é ser humano, ou pelo menos tentei aprender.

Aprendi que não devemos vender ilusões, mas sim doar verdades.

Aprendi que humildade é o ponto de partida para alcançar a paz interior.

Aprendi que a humildade jamais poderá ser comparada à uma franqueza, pois é a verdadeira força!

Aprendi que ouvir é um dom divino, que poucos possuem.

Aprendi que, às vezes, o melhor é deixar algumas coisas de lado.

Aprendi que, infelizmente, o orgulho envolve a vida de muitas pessoas.

Aprendi que poucas pessoas se importam com as outras.

Aprendi que se desculpar é o principal sinal de quem deseja recomeçar da forma correta.

Aprendi que é importante aprender...

Porém, a partir do momento que essas ideias começam a ser parte integrante da vida, começamos a frustrar grande parte das pessoas com as quais convivemos, pois muitos ainda preferem se lambuzar com doces fantasias.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Nasceu no mundo um sol




"Nasceu no mundo um sol".
Com estas palavras, na Divina Comédia (Paraíso, Canto XI), Dante Alighieri alude ao nascimento de São Francisco de Assis.

Giovanni di Pietro di Bernardone, nascido na cidade italiana de Assis no ano de 1.182, filho de um grande comerciante de sucesso, certamente mais conhecido pela alcunha de “São Francisco de Assis”, levou uma vida condizente com sua condição financeira até aproximadamente, seus vinte anos. Desfrutou dos prazeres mundanos que sua condição permitia, tornou-se popular e abusou das extravagâncias. Aventurou-se em meio às roupas da moda, bebidas e dinheiro; porém, sempre possuiu uma essência pura.

Aproximadamente em 1.202, partiu para a guerra conta Perúsia, onde foi feito prisioneiro por aproximadamente um ano. De volta, enfrentou uma doença por mais um ano. Cuidou do seu pai adoecido por algum atempo e, mais tarde, saiu para uma nova empreitada como soldado, na região de Apúlia, tendo servido aos exércitos papais contra tropas imperiais.

Foi surpreendido por uma visão. Segundo a versão da “Legenda trium sociorum”, uma voz lhe disse: “- Quem te pode ser de mais proveito? O senhor ou o servo?

Giovanni di Pietro, respondeu: “- O senhor!”

Eis que a voz lhe retrucou: “- Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?”

Sem entender, Giovanni di Pietro disse: “- Que queres que eu faça?”

A voz, então replicou: “- Volta para tua terra, e te será dito o que haverás de fazer. Pois deves entender de outro modo a visão que tiveste.”

Após ter sido tocado pela mensagem divina, começou a demonstrar preocupação com os necessitados e, a partir de então, retirou-se em uma gruta, onde iniciou um ciclo de meditação. Tido como louco, foi trancafiado pelo pai. Quando solto, renunciou os bens materiais e dedicou sua vida aos mais necessitados.

I Fioretti di San Francesco” é uma preciosa obra da literatura italiana que contem lendas relativas a São Francisco de Assis. Dentre estes belos textos, destaca-se “O Lobo de Gubbio”.

Reza a lenda que um lobo feroz assolava a cidade italiana de Gubbio, localizada na Umbria, atual província de Perugia. O terrível predador já havia devorado muitos animais e pessoas.

O animal apresentava tamanha ferocidade que ninguém tinha coragem de se aventurar fora da cidade. Não havendo outra alternativa, Gubbio cercou-se com altas muralhas, sendo que todos os habitantes andavam armados.

Quando Francisco chegou àquela cidade, estranhou o medo do povo. Percebeu que a culpa podia não ser somente do lobo. Logo, ofereceu-se para ajudar.

Sozinho e desarmado, saiu de encontro ao lobo.

Ao encontrar o feroz animal disse que queria conversar com ele. Ante a bondade do homem, o lobo perdeu sua maldade.

Francisco disse ao lobo que faria um trato com ele: daquele dia em diante, juntamente com a cidade, cuidaria do animal, já que em função do crescimento daquela, a floresta já não mais lhe oferecia o alimento necessário. Sendo, portanto, desnecessário o emprego de violência por parte do animal.

Assumido o compromisso pelas partes, Francisco retornou à cidade na companhia do lobo. A partir de então, o povo da cidade abandonou sua raiva, cuidou do lobo e passou a chamá-lo de irmão.

Após uma sadia convivência, tomado pela velhice e com grande pesar, o lobo morreu.

Ainda hoje em Gubbio existe um sarcófago de pedra, no qual repousam os restos mortais do lobo.

A intolerância impedia a convivência. Francisco desdenhou o lobo e a cidade, pois ambos, ao mesmo tempo, estavam errados e possuíam razão.

Por quantas vezes, em virtude do orgulho exacerbado que cega uma pessoa, fazendo que esta somente enxergue os pontos negativos nos outros, relações chegam ao fim?

Aos poucos, as pessoas vão se destruindo. O que deveria ser valorizado é jogado no lixo. Amam objetos. Apegam-se a quem as ofende.

O importante, não mais importa.

Foram-se os anéis. Os dedos seguem seguem o mesmo caminho.

A intolerância aliada ao orgulho está destruindo as relações e impedindo que novas surjam; ao passo que, com o passar do tempo, o desenvolvimento da sociedade e o consequente acesso à informação, à educação e a cultura, a Humanidade deveria tornar-se mais “humana”.

Apesar de ser algo difícil, que por vezes poderá se mostrar impossível, a melhor forma de demover o ódio de um Ser é mostrar àquele que todos possuem a capacidade de amar.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A vida sob uma ótica cristã



O livro “Cristianismo Puro e Simples” de C.S. Lewis teve seu conteúdo exposto inicialmente em suas palestras transmitidas em programas de rádio durante a II Guerra Mundial. O autor buscou curar os corações através de histórias, num mundo que perdera a sanidade, graças à própria crueldade humana.

O autor pondera que intencionalmente não oferecerá qualquer espécie de ajuda a quem esteja indeciso entre duas denominações cristãs. Proclama-se seguidor da Igreja Anglicana, mas em nenhum momento deseja promover qualquer espécie de conversão. De forma acertada, defende a fé comum dos cristãos.

O desnecessário confronto de teses religiosas, conforme entendimento de Lewis impede que as pessoas ingressem em alguma comunidade cristã.  As religiões que deveriam se atentar somente a salvar almas, tem encontrado na intolerância, motivo para guerrear.

Acertadamente e de forma intencional, Lewis se cala sobre pontos controversos. Todos tem uma opinião, mas ele mostra que o silêncio em determinados momentos também é uma forma respeito.

Inicialmente o autor destaca a sua concepção de Lei da Natureza Humana, a regra do certo e do errado, chamada também de Lei Natural. Como os corpos são regidos pela lei da gravitação, e os organismos pelas leis da biologia, assim também o ser humano possui uma lei própria. Enquanto aos organismos é vedada qualquer forma de escolha, ao homem é fornecida esta liberdade.

O ser humano está adstrito a diversas leis, como exemplo tem-se a gravitação, que sendo desobedecida o levará a ficar suspenso no ar, sem apoio e fatalmente cairá como uma pedra. O homem não pode desobedecer as leis que tem em comum com outros seres, mas somente aquela que o norteia de forma individual: a Lei Natural.
Todos sabem diferenciar o certo do errado, mas por diversas vezes, teimam em agir de forma errada.

O Ser humano, em qualquer parte do mundo, tem noção de que deve seguir a Lei Natural, comportando-se de uma maneira correta, mas na prática insiste em transgredir essa premissa.

Para Lewis, a Lei Moral não é um instinto particular ou complexo de instintos, é como um maestro que, regendo os instintos, define a melodia que chamamos de bondade ou boa conduta. Existe um Algo ou um Alguém por trás desta Lei Moral.

O Cristianismo leva as pessoas a se arrependerem e promete-lhes o perdão. Ele nada tem a dizer àquelas pessoas que não tem consciência de terem feito algo de que devam se arrepender e que não sentem a urgência de serem perdoadas. O Cristianismo foi feito para os humildes.

Quando nos damos conta da existência de uma Lei Moral, de um grande Poder por trás dela, e a infringimos, ficamos em dívida com esse Poder. A partir daí o cristianismo começa a falar nossa língua.

Se você é cristão, está livre para pensar que todas as religiões, mesmo as mais estranhas, possuem pelo menos um fundo de verdade.

A religião se espelha na guerra e em outros assuntos, quando mostra que o consolo é a única coisa que não pode ser alcançada é buscada diretamente. É inútil tentar obter o consolo sem antes enfrentar a consternação.

Para Lewis, existem quatro virtudes “cardeais” (prudência, temperança, justiça e fortaleza) e três “teológicas”(fé, esperança e caridade).

Deus concebeu a máquina humana para ser movida por Ele mesmo. Deus é o combustível que nosso espírito deve queimar, ou o alimento do qual o homem deve se alimentar. Deus não pode nos dar uma paz ou uma felicidade diferentes Dele mesmo, pois fora Dele elas não se encontram.

Para Lewis, o grande pecado é o orgulho. Não existe nenhum outro defeito que torne alguém tão repugnante como ele. O orgulho leva a todos os outros vícios; é o estado mental mais distante a Deus. Ele é a causa principal da infelicidade, significada inimizade. E não é só inimizade entre homens, mas também entre um homem e Deus. O orgulho é um câncer espiritual, corrói qualquer possibilidade do Ser conhecer o amor, a felicidade, o contentamento e até mesmo o bom senso. Afaste-se de pessoas orgulhosas, busque as puras de coração e que lhe tratam bem.

A virtude oposta ao orgulho na moral cristã é a humildade. O primeiro passo para adquiri-la é reconhecer o próprio orgulho.

Para Lewis devemos abdicar do orgulho humano, pois se buscarmos a nós mesmos, no fim só encontraremos o ódio, a solidão, o desespero, a fúria, a ruína e a podridão. Porem, se buscarmos a Cristo, o encontraremos; e, junto a com ele, encontraremos todas as coisas.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Ahhh riano. Por quê?




Pobres? Mentirosos? Coitados? Sofredores? Ardilosos? “Joões Grilos”, nós somos. Não por maldade, tampouco por interesse.  João representa os oprimidos e tenta viver de forma fantasiosa utilizando uma das poucas armas que os brasileiros pobres possuem para se proteger: a astúcia.

Covardes?  Mentirosos? “Chicós”, nós também somos. Tudo é uma questão de sermos precavidos.

Na luta pelo pão nosso de cada dia carregamos um pouco dos “pseudo-heróis-nacionais-suassuninos”. Criamos inúmeros planos para conseguir sobreviver em meio aos diversos dissabores que surgem. Frente a estes novos desafios, tentamos de modo astuto, bem “Grilês”, nos dar bem, mas acabamos caindo em uma confusão maior ainda.

Muitas vezes nem sentimos o sabor do pão que o diabo amassou, pois a burguesia, dona da padaria, prefere dá-lo aos animais.

Brincamos com o que não poderíamos. Tudo firmado na imaginação de que o bom Deus, brasileiro como nós, perdão na sua mais humilde essência, nos reserva.

A paixão e a avidez por um chamego faz com que o mais astuto, bobo se torne. Mas temos um amigo sempre pronto a nos ajudar. Claro que a porquinha recheada se torna um atrativo para essa força “despretensiosa”.

A lábia “Grilês” tenta derrubar até o mais cruel dos vilões. Vilão? Na verdade um pouco vítima social, ao bem da verdade. Mas erros, nunca foram capazes de justificar outros.

E se a coisa ficar feia? Temos a Compadecida para nos salvar. Ela, uma mulher simples, do povo e um poço de compaixão, compreende as faltas humanas.

JOÃO GRILO: - E difícil quer dizer sem jeito? Sem jeito! Sem jeito por quê? Vocês são uns pamonhas, qualquer coisinha estão arriando. Não vê que tiveram tudo na terra? Se tivessem tido que aguentar o rojão de João Grilo, passando fome e comendo macambira na seca, garanto que tinham mais coragem. Quer ver eu dar um jeito nisso, Padre João?

PADRE: - Quero, Joca.

JOÃO GRILO: - Agora é Joca, hem? E você, Senhor Bispo? 

BISPO: - Eu também, João.

JOÃO GRILO: - Padeiro?

PADEIRO: - Veja o que pode fazer, João.

JOÃO GRILO: - Severino? Mulher e cabra?

MULHER: - Nós também. Nossa esperança é você.

JOÃO GRILO: - Tudo precisando de João Grilo! Pois vou dar um jeito.

ENCOURADO: - É isso que eu quero ver.

MANUEL: - Com quem você vai se pegar, João? Com algum santo?

JOÃO GRILO: - O senhor não repare não, mas de besta eu só tenho a cara. Meu trunfo é maior do que qualquer santo.

MANUEL: - Quem é?

JOÃO GRILO: - A mãe da justiça.

ENCOURADO (rindo): - Ah, a mãe da justiça! Quem é essa?

MANUEL: - Não ria, porque ela existe.

BISPO: - E quem é?

MANUEL: - A misericórdia.

SEVERINO: - Foi coisa que nunca conheci. Onde mora? E como chamá-la?

JOÃO GRILO: - Ah isso é comigo. Vou fazer um chamado especial, em verso. Garanto que ela vem, querem ver? (Recitando).
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa dá leite,
A braba dá quando quer.
A mansa dá sossegada,
A braba levanta o pé.
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.

ENCOURADO: - Vá vendo a falta de respeito, viu? 

JOÃO GRILO: - Falta de respeito nada, rapaz! Isso é o versinho de Canário Pardo que minha mãe cantava para eu dormir. Isso tem nada de falta de respeito!
Já fui barco, fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré.

(Nossa Senhora, A Compadecida, entra)

ENCOURADO ( com raiva surda): - Lá vem a compadecida! Mulher em tudo se mete!

JOÃO GRILO: - Falta de respeito foi isso agora, viu? A senhora se zangou com o verso que eu recitei?

A COMPADECIDA: - Não, João, por que eu iria me zangar? Aquele é o versinho que Canário Pardo escreveu para mim e que eu agradeço. Não deixa de ser uma oração, uma invocação. Tem umas graças, mas isso até a torna alegre e foi coisa de que eu sempre gostei. Quem gosta de tristeza é o diabo!

Ariano passa a ideia de que o sertanejo por degustar dificuldades durante a vida deve ser perdoado de alguns pecados. As dores passadas, por si só, são capazes de absolver alguns pecados.


O julgamento que enfrentamos é sempre moral, onde todas as formas de vícios e vaidades são condenadas.

Obrigado Ariano! Ficou gravada a lição: Somos “Joões Grilos” e Chicós”, por isso vencemos o sofrimento com o sorriso e salvamo-nos pela simplicidade e humildade.